Publicado por: marcelosdb | 27/10/2010

Pe. RODOLFO LUNKENBEIN: uma vida pelos índios de Mato Grosso.

Aproximando-se o encerramento do mês missionário apresento a nossos leitores a vida e o exemplo de um missionário salesiano: Pe. Rodolfo Lunkenbein. Ele Morreu defendendo a causa dos índios Bororo do Mato Grosso. O seu testemunho nos mostra que também hoje o missionário deve estar disposto a sacrificar a própria vida.

15 DE JULHO DE 1976! Dez horas e trinta minutos! No pátio da Missão Salesiana de Merúri, estado de Mato Grosso, Brasil, jaz um corpo. O jovem diretor da Missão, Pe. Rodolfo Lunkenbein, SDB, acaba de ser imolado por defender a comunidade indígena bororo no processo da demarcação do seu território.

Rodolfo nascera no dia 1º de abril de 1939, em Doringstardt, perto de Bamberga, na Alemanha. Seus pais, João e Maria Lunkenbein, eram pequenos agricultores. Um dia – Rodolfo estava na 5º série primária – caíram em suas mãos alguns números do Boletim Salesiano: foi a descoberta de um mundo novo. O vigário deu-lhe de presente uma vida de Dom Bosco. A figura do santo impressionou-o de tal forma que o pequeno Rodolfo decidiu ser padre salesiano.

Era por volta da 8ª série, quando, passando férias em casa, certo dia foi chamado pela mãe a dar explicações, pois ela encontrara no bolso do paletó do filho um bilhete amassado com a frase: “Eu quero ser missionário”. “Uma mãe descobre tudo”, respondeu Rodolfo. Contou que o diretor do aspirantado havia pedido a todos que escrevessem, com sinceridade, em bilhete anônimo, o que realmente queriam ser. Tendo borrado o primeiro bilhete, Rodolfo o tinha enfiado no bolso.

Em 1958 chegava a Mato Grosso o novo inspetor salesiano, Pe. João Greiner, alemão, trazendo de sua terra uma levada de jovens missionários, seminaristas e irmãos leigos. Com ele vinha também o jovem Rodolfo Lunkenbein. Nem salesiano era ainda: vinha fazer o noviciado no Brasil. A ótima saúde, a grande força física, a inteligência prática, a humanidade, a alegria e a disposição para o serviço, eram as ferramentas que trazia para seu primeiro e definitivo campo de trabalho missionário: Merúri.

Merúri era uma missão complexa onde, além do reduzido grupo indígena Bororo, havia um internato para meninos brancos das fazendas e cidades que estavam surgindo na região.

O martírio cristão não é um acontecimento repentino, improviso. É antes de tudo uma graça de Deus. É também o coroamento de uma vida de muito amor e compromisso com o Reino de Deus, no seguimento do Mártir Divino.

No dia da chacina, tinham os atacantes tomado o pátio da Missão, para onde trouxeram preso um dos grupos que estava fazendo a demarcação. O diretor se achava no campo com um grupinho de Bororo iniciando uma lavoura de arroz no cerrado para o sustento da comunidade indígena. Foi chamado com urgência e, ao chegar à missão, percebeu que havia chegado a sua hora. Estavam diante dele os que lhe tinham jurado morte e alguns pistoleiros conhecidos na região. Procurou acalmar os ânimos.

A resposta a atitude pacificadora do Pe. Rodolfo foi a violência contra ele, por palavras e ações. Testemunhas oculares contam que, quando o chefe dos atacantes puxou o revólver para atingir o padre, o capitão bororo, ali perto, quis segurá-lo para impedir o crime, mas foi baleado pelas costas deixando-o sem sentidos. O padre, já atingido no estômago, levou a mão à ferida, levantando o braço esquerdo para pedir calma. Seguiu-se, porém, um segundo tiro, sob o braço esquerdo, e um terceiro, no coração. Os poucos índios presentes, atarantados pelo súbito ataque, não puderam, como é fácil imaginar, nem defender-se, nem defender o sacerdote. Um deles, o bororo Simão, teve as entranhas rasgadas por uma faca e à mãe, que ocorrera a socorrê-lo, lhe cravaram uma bala no peito. Rodolfo é logo atendido pelas mulheres presentes e a enfermeira Irmã Margarida, mas morre segundos após. Simão Bororo também morreu. O padre morreu por defender a terra dos índios e o Índio por defender a vida do padre.

Pouco depois da morte do Pe. Rodolfo e Simão, a área bororo de Meruri foi demarcada. A comunidade indígena conseguiu a posse e o uso exclusivo de sua área. O martírio de Rodolfo e Simão refloresce na vida e é celebrado todos os anos na lembrança.

Texto retirado do livro do Pe. Gonçalo Ochoa, SDB: Pe. Rodolfo Lunkenbein: uma vida pelos índios de Mato Grosso.


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